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O Mau Comportamento em Sala de Aula e 10 Dicas de Como Remediá-lo



No meio de 2022, tive o privilégio fazer parte de um painel no Colégio Santo Agostinho com Marcela Vianna, ex-aluna e psiquiatra, sobre como a neurociência e a psicologia podem ajudar as escolas a entender o que seus alunos estavam passando ao retornar às aulas presenciais. A pandemia teve impactos significativos no desenvolvimento infantil e um dos elementos mais importantes que precisamos trazer de volta às escolas é a conexão e o afeto. Nosso cérebro é o órgão social e prosperamos quando temos a chance de interagir com nossos colegas. No entanto, todos presentes disseram a mesma coisa: os estudantes estão mais inquietos e mais mal comportados.


Reza a lenda que o famoso psicólogo behaviorista americano BF Skinner certa vez disse que, se ele tivesse uma criança, ele poderia moldá-la no que quisesse. Não sabemos ao certo se ele realmente disse isso, mas seu trabalho certamente aponta para essa direção. Skinner, assim como outros behavioristas, estudava o porquê de as pessoas se comportarem de determinada maneira e como certos comportamentos poderiam ser impostos.

Será que é possível controlar (ou até condicionar) o comportamento do outro? Muitos educadores e muitas famílias estão desesperados por uma solução para falta de comportamento, que de fato parece ter aumentado depois das aulas remotas. Será que as crianças e adolescentes estão mais impulsivos e até agressivos? Vamos entender um pouco o que a neurociência e a psicologia podem nos contar sobre isso.

Neuropsicologia do comportamento

Podemos dizer que o cérebro utiliza dois sistemas que orientam nosso comportamento. O primeiro é o que geralmente guia os animais e está relacionado ao que Daniel Kahneman classifica como Pensando Rápido. É a capacidade que nosso cérebro tem de fazer julgamentos rápidos com base em estruturas automatizadas as quais adquirimos ao longo da evolução e por meio do reforço. O segundo sistema é o Pensando Devagar. Este requer um esforço de pensamento e raciocínio. Tem a ver com a parte “racional” de nossos cérebros, particularmente o córtex pré-frontal.

Digamos que você tenha um gato. Um novo elemento que este gato nunca tinha visto antes é introduzido no ambiente. O que acontece? O gato fica incrivelmente desconfiado devido a um instinto que foi “ativado” no seu cérebro. Este é o sistema dominante dos animais porque eles não desenvolveram um córtex sofisticado como nós. Porém, há algo interessante: gatos e humanos são criaturas de hábitos. Mecanismos muito semelhantes são ativados quando fazemos algo por puro hábito. É como um instinto.

O que tudo isso tem a ver com o mau comportamento?

Bem, talvez não muito, dependendo da frequência com que o aluno faz isso. Quando perguntei por que os estudantes não se comportam em classe nas minhas redes sociais, recebi muitas respostas e a maioria delas girou em torno de falta de interesse e tédio, culpa dos pais, problemas em casa, busca de atenção e falta de respeito ou relacionamento com o professor.

Mas esse é o caso de estudantes que tem um problema mais pontual. E aqueles que sempre, ou pelo menos quase sempre, se comportam mal? Isso tem muito a ver com a formação de hábitos. Aquele aluno que tem muitos problemas para permanecer comportado pode precisar de atenção especial por causa de TDAH, autismo e / ou dislexia. Mas essas condições precisam de um diagnóstico adequado e não vou discuti-las agora. Estou me referindo a estudantes que são neurotípicos e ainda não conseguem gerenciar seu comportamento.

O que posso dizer de uma perspectiva neurocientífica? Esse comportamento, ou a falta dele, pode ter se tornado um hábito e eles podem nem saber que estão fazendo isso. Do ponto de vista psicológico, o reforço de certos comportamentos por meio da repetição e da recompensa pode fazer com que eles permaneçam assim e que seja difícil de remediar.

O que podemos fazer então?

Já ouviu falar de Charles Duhigg e seu livro The Power of Habit – O Poder do Hábito? Nele, Charles descreve um mecanismo bem conhecido na psicologia que se conecta com a formação de hábitos. É um loop que começa com um GATILHO, nos leva à ROTINA (o próprio hábito), porque isso nos dá uma sensação de RECOMPENSA. Em outras palavras, sempre que o gato vê um objeto estranho (GATILHO), isso ativa o comportamento suspeito / cauteloso (ROTINA) e, por fim, leva à RECOMPENSA (permanecer vivo e sem perigo).

O ciclo do hábito

E o seu aluno mal comportado? Uma maneira possível de ver isso seria assim: O GATILHO é o tédio, que leva ao mau comportamento com o propósito de ganhar alguns minutos da lição, porque você interrompe o que está fazendo para trazer o aluno de volta à tarefa. Ou talvez o mau comportamento leve o aluno a se divertir um pouco com seus colegas.

Como os entrevistados da minha pesquisa compartilharam gentilmente, pode haver muitos fatores que contribuem para desencadear o mau comportamento. Na verdade, pode estar relacionado a dificuldades de aprendizagem, falta de modelos, impulsividade e todas as outras coisas que eles mencionaram. O que podemos fazer então? Vou compartilhar algumas estratégias abaixo:

  1. Estabeleça regras básicas de convivência e faça os alunos assinarem um "contrato". Negocie com eles quais serão os comportamentos inaceitáveis e chame todo mundo para rubricar esse "contrato". Quando eles desrespeitarem as cláusulas, lembre-os que concordaram com os termos.

  2. Tenha a família como aliada e crie estratégias conjuntas para lidar com o mau comportamento dos alunos. É importante reforçar o que foi combinado tanto dentro como fora da sala de aula.

  3. Use pausas mentais. Quando eles sabem que haverá uma pausa em todas as lições, eles conseguem gerenciar seu comportamento e isso se torna um hábito. Leia mais sobre isso aqui.

  4. Quebrar um hábito normalmente significa identificar o GATILHO e substituir o COMPORTAMENTO por algo mais útil. Sempre que você sentir que um aluno está prestes a se comportar mal, você pode responsabilizá-lo por algo um pouco mais interessante, como escrever no quadro ou ajudar a distribuir os materiais da tarefa ou simplesmente ajudar os colegas que precisam.

  5. Os alunos que se comportam mal cronicamente podem estar sofrendo da incapacidade de prestar atenção. A meditação ou mindfulness pode ser uma aliada nesse caso. Você pode estabelecer alguns minutos em cada aula e guiá-los usando uma técnica de respiração bastante fácil que você pode copiar de um aplicativo chamado Headspace. Novamente, a idéia é fazer disso um hábito.

  6. A reflexão também pode se tornar um hábito. Você já tentou perguntar ao aluno que se comporta mal de uma maneira não ameaçadora por que ele faz isso? Peça a ele que pense sobre isso e use o método socrático para fazer mais e mais perguntas para tentar entender o problema e ajudá-lo.

  7. Em vez de focar no GATILHO, você pode focar na RECOMPENSA. Elogios e honestidade podem ser gratificantes se você usá-los para que os alunos saibam que tipo de comportamento você espera deles. Dependendo do caso, talvez você precise de um elemento visual para que os alunos vejam o seu status de comportamento. Pode ser um recipiente de vidro onde você coloca post-its com os nomes deles quando eles bagunçam ou até um app como o ClassDojo, no qual ele criam avatares e ganham ou perdem pontos.

  8. Incorpore MOVIMENTO, VOZ e ESCOLHA em suas aulas. Muitos de nossos alunos ficam sentados por horas antes das aulas e não aguentam mais. Permita que eles façam um alongamento ou se levantem e andem um pouco às vezes.

  9. Seja paciente. Quebrar um mau hábito ou desenvolver um novo infelizmente leva tempo. É muito difícil mudar um hábito e requer força de vontade e reforço. Incentive-os a ficar no caminho certo.

  10. Mantenha suas promessas e responsabilize seus alunos. Se você promete recompensar seus alunos pelo comportamento deles (ou até mesmo puni-los), faça o que disse.

Não vou mentir. Gerenciar o comportamento dos alunos em sala é um desafio gigantesco e tem levado muitos profissionais do ensino ao Burnout e a desistirem da profissão. As crianças de hoje em dia têm acesso a tanta coisa e pouca fiscalização. Elas ainda estão desenvolvendo suas funções executivas e precisa de correguladores (não se esqueça de ler meu texto sobre autorregulação aqui). Mas se criarmos as condições, expectativas, recompensas e consequências necessárias, podemos ter sucesso nessa empreitada tão desafiadora.


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