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Foto do escritorAndré Hedlund

Exemplo de Espaçamento na Prática: Reciclando o Livro Didático

Atualizado: 27 de out. de 2023

Não é segredo para nenhum de nós que estudar por horas a fio todos os dias pode sobrecarregar nossas memórias e, no fim das contas, percebemos que não aprendemos de fato. É quase como tentar regar um vaso de manjericão com 5 litros de água, um após o outro. A pobre planta não tem chance de absorver toda essa água - e nem precisa.


Você já ouviu falar sobre Hermann Ebbinghaus? Pois então, ele foi um pioneiro na psicologia experimental e deu contribuições fundamentais no estudo da memória e do aprendizado. No final do século XIX, ele realizou experimentos inovadores sobre a curva de esquecimento, descobrindo que as informações são esquecidas rapidamente após a aprendizagem e que o esquecimento ocorre de maneira exponencial ao longo do tempo.


Como ele fez isso? Ebbinghaus usou cartões com sílabas de 3 letras sem sentido em seus experimentos, que, em outras palavras, eram sequências de letras sem significado, permitindo que ele investigasse a memória sem a interferência do significado das palavras. Ele se testou diversas vezes ao longo de muito tempo e anotou tudo. É daí que vem muito do que entendemos pela ideia de prática espaçada ou distribuída. Basicamente, estudar muita coisa de uma vez não garante aprendizado.


Sim, eu sei que temos muito conteúdo para aprender, mas as nossas escolas estão enchendo as cabeças de nossos alunos com tanta informação que eles praticamente estão tendo uma overdose de informações. É comum ouvir deles, depois de fazerem suas provas, que já nem lembram mais do que "aprenderam". Isso nos diz muito, principalmente que:

  1. A memória de trabalho é um recurso limitado. Alguns estudos mostram que excesso de informações pode causar sobrecarga cognitiva e diminuir a retenção. Quanto é demais? É difícil estipular, mas normalmente conseguimos manter entre 4 e 9 itens (chunks) na memória de trabalho por vez (Cowan, 2001; Miller, 1956);

  2. A melhor maneira de estudar é espaçar a revisão dos conteúdos ao longo de um período maior, em vez de sessões muito longas em dias próximos (Kornell & Bjork, 2008);

  3. A consolidação da memória ocorre durante o sono. Se quisermos verificar se os alunos realmente aprenderam algo, devemos fazer perguntas ao longo de semanas, em vez de apenas no final da aula. Entender e lembrar não são a mesma coisa que aprender;

Como ajudar nossos alunos então? Aqui vai uma dica prática que você pode começar a implementar hoje e talvez fazer seus alunos aprenderem mais - você pode aplicar em você mesmo também! Você só precisa de marcadores coloridos e o livro que vocês está estudando.


A técnica de marcadores de páginas coloridos


Comecei a usar essa técnica em 2017 com os meus alunos. Algumas vezes, a gente pulava atividades do livro para fazer algo mais interessante ou eficaz. Nessa hora, eu pedia que os meus alunos marcassem o que pulamos para reciclarmos no futuro.

Eu sempre carregava alguns marcadores coloridos comigo. Eu pedia que os meus alunos comprassem também. O principal objetivo era usá-los como etiquetas e a ideia é bem simples: marcar as partes do nosso material que precisávamos revisar ao estudar. Eu usava um código de cores para ajudar a saber quantas vezes revisar - com prática de lembrar - e quando fazer isso.


  • VERMELHO ou ROSA significa NO DIA SEGUINTE (preferencialmente de manhã);

  • AMARELO significa TRÊS a QUATRO DIAS após a aula;

  • VERDE significa 1 SEMANA após a aula.


Para ajudar a acompanhar quando fazer as revisões é uma boa ideia escrever na página do livro ao lado dos marcadores ou nos próprios marcadores as datas. Por exemplo:


27/10

30/10

03/11


No entanto, aqui vão algumas regras importantes para os alunos. Faça com que eles:


1) Registrem respostas em folha separada: Não preencham espaços em branco nos livros; usem papel separado para anotações.


2) Evitem checar a resposta imediatamente: Mantenham as anotações longe durante a revisão. Não olhem para caixas de gramática anteriores. Testem-se ativamente.


3) Priorizem a prática de lembrar: Ao estudar, realizem testes antes de verificar as respostas anteriores. Recuperar informações ativamente é mais eficaz do que reler.


4) Movam os marcadores coloridos: Usem etiquetas vermelhas/rosas para revisar no dia seguinte, amarelas para 3-4 dias depois e verdes para uma semana depois. Mova as etiquetas conforme lembram ou não.


  • Se conseguirem lembrar das coisas com bastante facilidade no dia seguinte, eles podem remover a etiqueta VERMELHA/ROSA e colocá-la abaixo da ETIQUETA VERDE.

  • Se não conseguirem lembrar das coisas facilmente, eles devem manter a etiqueta VERMELHA/ROSA no topo e tentar novamente no dia seguinte.

  • Quando a etiqueta AMARELA estiver no topo, eles devem fazer o mesmo com a etiqueta VERMELHA/ROSA.

  • Lembraram? Movam a etiqueta AMARELA para baixo, abaixo das VERMELHA/ROSA e VERDE.

  • Não lembraram? Recuperem a etiqueta VERMELHA/ROSA e substituam a etiqueta AMARELA por ela. O mesmo vale para a etiqueta VERDE.

5) Busquem exemplos adicionais: Se tiverem dificuldades, procurem exemplos em livros, sites, etc. Tentem explicar o conteúdo a colegas, usando áudio ou vídeo se possível.


6) Mantenham as revisões rápidas: Limitem cada revisão a 15 minutos para evitar frustrações. A prática excessiva pode ser contraproducente. Utilizem cronômetro se necessário.


Gostaram? Essa é uma adaptação da técnica ou sistema Leitner. A ideia é aumentar o tempo antes da próxima revisão conforme a gente vai se lembrando das coisas e diminuir o tempo se a gente não conseguir lembrar.


Isso e muito mais eu explico no meu curso Estudando com a Ciência da Aprendizagem. Quer aprender mais estratégias interessantes para ajudar na hora de ensinar e aprender? Garanta a sua vaga agora mesmo!

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REFERÊNCIAS


Cowan N. (2001) The magical number 4 in short-term memory: A reconsideration of mental storage capacity. Behavioral and Brain Sciences. 24:87–185 Karpicke, J, D. (2016). A powerful way to improve learning and memory. Psychological Science Agenda. Available at http://www.apa.org/science/about/ps… Kornell, N., & Bjork, R. A. (2008). Learning concepts and categories: Is spacing the “enemy of induction”? Psychological Science, 19, 585–592. Miller, G. A. (1956). “The magical number seven, plus or minus two: Some limits on our capacity for processing information”. Psychological Review. 63 (2): 81–97




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