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4 Exemplos de como Usar a Aprendizagem Baseada em Projetos

Atualizado: 20 de mar. de 2023



Como professor, sempre busquei inovar na sala de aula e tentei implementar abordagens que dessem mais voz e protagonismo aos estudantes. Trabalhei tanto em contextos com muita rigidez metodológica, nos quais eu não podia nem por um segundo desviar do currículo preestabelecido, quanto em realidades com muita flexibilidade, nos quais eu nem precisava seguir o livro didático à risca.


O que aprendi com essas experiências foi que, na maioria dos casos, o que a escola oferece está descolado da realidade e da vida cotidiana dos nossos alunos. No entanto, a partir de 2016, tive uma experiência que mudaria a minha vida. Fiz um intercâmbio e fiquei um mês nos EUA onde tive contato pela primeira vez como conceito e a prática da Aprendizagem Baseada em Projetos - ABP (Project-based Learning – PBL)


Acredito que a ideia de ABP seja algo que soe muito familiar para quem está no contexto da educação. Muitos livros e eventos, webinars, lives, e mesas redondas, focam nessa metodologia. No entanto, como é que isso funciona de fato? O que eu vi no meu intercâmbio curto ao estado do Wyoming foi muita colaboração, engajamento, entusiasmo e divertimento, além de projetos incríveis!


Esse texto traz 4 histórias minhas que funcionaram depois de eu me encantar com a ABP. Cada história aborda um nível e realidades bem diversas. Antes de compartilhar esses momentos que vivenciei, devo destacar 4 desafios que me impediram de implementar com sucesso a Aprendizagem Baseada em Projetos de imediato.


Essas são as percepções que ganhei da maneira mais difícil na primeira tentativa e não devem ser menosprezadas se o sucesso é o que você busca:

  1. ABP significa compromisso de longo prazo. Ter seus alunos trabalhando em um projeto que será desenhado, executado e exibido durante um período curto do curso não é a ideia por trás da ABP.

  2. ABP tem a ver com os estudantes. Quando é você quem escolhe o projeto e diz a eles o que cada um precisa fazer, você não está explorando o que significa ABP de fato. O projeto surgirá dos seus alunos e só então eles poderão chamá-lo de projeto DELES.

  3. A transição não será tão suave. Leva tempo para mudar a mentalidade dos seus alunos e o aspecto principal que me ajudou foi compartilhar com eles o máximo possível sobre a ABP

  4. Foque mais no processo e nem tanto no produto final. A ABP tem mais a ver com a trajetória do que com o destino final. Seus alunos vão aprender mais no fazer da coisa do que na hora da apresentação

A Aprendizagem Baseada em Projetos tem o potencial de impactar não só as vidas dos envolvidos, mas, também, sua comunidade, seja ela local, regional ou global. O propósito central dessa metodologia é questionar problemas ou desafios importantes e investigar possíveis soluções, usando o currículo como alicerce.

O ideal é utilizar o processo como um trampolim para o aprendizado e criar um produto final que será apresentado a um público externo, que irá acompanhar o que os alunos realizaram e aprender com isso. A ABP funciona como um catalisador de aprendizagem.


Quebrando Preconceitos: Minha amiga do Iraque


Da mesma forma que olhamos para a Síria com medo e certo preconceito, julgamos a maioria dos países do Oriente Médio, especialmente o Irã e o Iraque, de maneira extremamente estereotipada e negativa. Somos bombardeados com notícias terríveis todos os dias pela mídia, o que explica nossos sentimentos negativos.


Em 2017, no entanto, uma mulher iraquiana pediu para se juntar ao meu grupo no Facebook para praticar inglês. No começo, infelizmente, eu a tratei com desconfiança e evitei adicioná-la por causa de todas essas coisas horríveis que vemos na TV. Mas então eu disse a mim mesmo: sabe de uma coisa? Eu vou conversar com ela.


Descobri que ela foi para a Universidade de Educação da sua cidade para estudar inglês e se tornar professora. Eu a adicionei e temos conversado desde então. O nome dela é Afrah, ela adora peixe e pizza. Ela tem duas lindas sobrinhas, Zahraa e Mariam, que se vestiram de Papai Noel no Natal do ano de 2016 e o seu pai é o homem mais gentil que ela conhece, que gosta de todo mundo e oferece ajuda às famílias oprimidas que são perseguidas pelo Estado Islâmico em Mosul. Resumindo: ela é uma pessoa, um ser humano, como qualquer outro.


Essa história me leva à parte da ABP. George Lucas, o cineasta genial que por acaso tem uma fundação educacional, afirma que:

“Com a aprendizagem baseada em projetos, os alunos aprendem projetando e construindo soluções reais para problemas da vida real.” (PBLworks, 2021). Katherine Bilsborough (2013) afirma que: “Os projetos trazem vida real para a sala de aula; em vez de aprender como as plantas crescem (e toda a linguagem que vem com isso), você realmente cultiva a planta e vê por si mesmo. Dá vida aos fatos.”

O encontro virtual completamente despretensioso com minha nova amiga iraquiana deu vida à sala de aula e acendeu nos meus alunos o desejo de saber mais sobre outros povos e culturas em nosso mundo.


O nosso projeto foi simples: conhecer mais sobre a cultura iraquiana e sobre a vida da Afrah. Ela foi entrevistada em diversos momentos pelos meus alunos. Em uma ocasião, na qual estudávamos partes da casa, ela enviou fotos da casa dela e fez uma videochamada para mostrar o seu jardim.


Em outro momento, meus alunos pequenos ligaram para ela pelo meu WhatsApp e perguntaram “What time is it?” (Que horas são?). Uma pergunta simples que os ajudou a entender os países estão em fusos horários diferentes. Eles aprenderam por meio de um ser humano real de uma cultura diferente e, assim como eu, quebraram seus preconceitos.


The Voice Anápolis: Um Curso Imersivo


A segunda experiência contou com a minha ajuda no desenho, no treinamento e na entrega do curso de imersão em inglês para uma universidade. Depois da escolha do livro didático pela coordenação, fui chamado para deixar o curso menos focado no livro e mais ativo, mesmo que eu ainda tivesse que seguir todas as páginas do material.


Chamei um grupo de três amigos professores e todos nós nos mudamos por um mês para uma cidade que ficava uns 45 km de onde eu moro para dar 8 horas de aula de segunda a quinta. Tínhamos turmas de faixas etárias diversas, mas todos eram adultos. Trabalhávamos com 4 grupos ao mesmo tempo e intercalávamos nossas aulas em três grandes pilares: conteúdo, jogos e projeto.


Logo no início do curso, decidimos levar todas as turmas, que iam do básico ao avançado, a uma sala maior para explicar como o projeto deveria ser concretizado. Falamos da importância dos encontros frequentes, da troca de informações e de um produto final para apresentar aos colegas.


No fim do curso, todos nós, os tutores, estávamos com grandes expectativas. A turma básica criou uma página no Facebook sobre saúde na terceira idade. A turma pré-intermediária desenvolveu um site para uma agência de turismo com fotos dos seus últimos destinos.


A turma intermediária criou um recital e uma mostra cultural com direito a um show de violino. A turma avançada criou uma revista de variedades com foco em tecnologia e sustentabilidade. Depois de assistir cada uma das apresentações e dar feedback, fizemos a nossa versão do The Voice e tivemos revelações incríveis do talento dos nossos estudantes.


300 Jovens da Rede Pública Goiana


No final de 2017, ficamos sabendo que o governo do estado de Goiás estava buscando parceiros para criar o currículo e dar aulas para os 300 jovens da rede pública que haviam sido contemplados com a bolsa de viagens do programa de capacitação Goiás Sem Fronteiras.


Esses jovens estavam de partida para os EUA em menos de um mês e precisávamos desenvolver competências linguísticas e de liderança. Tínhamos apenas um fim de semana para decidir se aceitávamos ou não. Depois de refletir, encaramos o desafio e contratamos mais de 20 professores, criamos o currículo e fizemos o treinamento. Esse curso seria uma imersão preparatória para a experiência que esses jovens iriam viver no fim do mês. O curso contava com 8 horas diárias de aulas por uma semana.


Não tínhamos materiais didáticos ou um currículo preestabelecido. Eu fiquei encarregado de montar todo o currículo e gravar tutoriais de treinamento em vídeo para a equipe, além de lecionar as aulas. No fim das contas, criei módulos independentes focados nas competências que o programa do governo pretendia desenvolver: liderança, empreendedorismo, oralidade e comunicação eficiente, colaboração e networking.


No final dessa semana intensa, os alunos preparam apresentações de slides, peças de teatro, números de danças e shows musicais sobre os assuntos que escolheram como projeto. O resultado? Um enorme sucesso. Recebemos feedback positivo de mais de 170 alunos (todos aqueles que responderam o formulário) e acompanhamos de perto sua ida para Nova Jersey.


Conexão Brasil-México


Quando trabalhei como mentor bilíngue no Edify, nós oferecíamos uma solução chamada Edify College Prep, que tinha parceria com o ACT, teste de entrada de jovens do ensino médio para os desafios acadêmicos das universidades estrangeiras. Nosso time decidiu então juntar o útil ao agradável: já que temos parceiros internacionais no mesmo tipo de programa, por que não usar nossa parceria como oportunidade de aprendizado? Foi isso que fizemos. Fiz algumas sessões de brainstorming com meus colegas e desenhei um guia de ABP baseado em um dos módulos do preparatório do ACT.


Depois de diversas reuniões com nossa parceira no México, lançamos o projeto com o treinamento dos professores brasileiros e mexicanos envolvidos. Em seguida, demos partida ao projeto com os alunos do ensino médio por meio de um evento de lançamento.


Fizemos as devidas apresentações e estamos aguardando os próximos passos. Os estudantes entraram em contato com seus parceiros internacionais e criaram um projeto alicerçado na atuação de uma Organização Não Governamental (ONG) que trabalhe com alguns pilares elencados, como educação, cultura e sustentabilidade. O resultado final foi incrível apesar dos solavancos no caminho. Os alunos tiveram que relatar a experiência do trabalho em conjunto e nesse relatório percebemos que muitas coisas poderiam ser aprimoradas, o que simula justamente o que acontece na vida real.


Conclusão


Trabalhar com ABP é desafiador, sem dúvidas. No entanto, nas experiências que tive, a recompensa foi muito maior e além do que eu esperava. Vi com os meus próprios olhos como meus alunos estavam empolgados com a possibilidade de trabalhar em algo que eles escolhessem, no qual suas habilidades fossem exploradas e sua criatividade colocada à prova. Não sei se notou, mas nem sempre trabalhei com a ABP raiz. Algumas vezes, precisei trabalhar com projetos paralelos ao livro e não pude incluí-los na avaliação final. Mas isso não deve ser um impedimento. Nem sem dá para fazer a ABP como ele foi idealizado, mas é muito provável que consigamos trabalhar com projetos relevantes e longevos.


Acredito no inglês como ferramenta de empoderamento, algo que permite aos nossos alunos uma reflexão mais profunda, relevante e aplicável no seu dia-a-dia. Sei que nem tudo é Aprendizagem Baseada em Projetos. Acredito nos momentos de instrução e prática dentro da sala de aula e na modalidade remota. Não estou dizendo para descartarmos completamente o que temos feito de maneira sistemática ao longo de décadas. Inclusive, nos níveis mais básicos e na estruturação de novos conhecimentos, é muito importante termos mais repetição e prática direcionada. Em alguns momentos, precisamos de lições mais centradas nos professores. Estou somente pedindo que paremos para pensar um pouco e que tentemos incorporar alguns princípios da Aprendizagem Baseada em Projetos em nossas aulas. Vamos dar uma chance ao ABP!

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