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Foto do escritorAndré Hedlund

3 Estratégias de Ensino que você Deveria Usar Mais

Atualizado: 1 de nov. de 2023

Olha, vou ser bem sincero com você. Ficar aprendendo listas de técnicas e estratégias de como ensinar com mais eficácia nem sempre funciona direito. Aliás, no mundo de hoje, parece que é exatamente esse tipo de conteúdo que nos chama a atenção. Queremos algo que dê para usar de imediato, de preferência na próxima aula, e que traga resultados. Por isso, o que vou compartilhar com vocês nesse artigo pode parecer hipocrisia, afinal, estou escrevendo uma lista de estratégias de ensino úteis. No entanto, acho que se você ler a fundo o que eu vou compartilhar, você vai notar que mais do que simples estratégias, o que você vai encontrar adiante deveria ser a base de como você planeja e executa suas aulas e suas próprias experiências de aprendizagem.

Em outras palavras, foque no princípio geral a que cada estratégia pertence e comece a usar de maneira sistemática.

Ah, e para não esquecer de compartilhar o meu bebê com vocês, lembrem-se que eu explico tudo isso e muito mais no meu livro Estudando com a Ciência da Aprendizagem. Além dessas três, discuto outras sete relacionadas a três grandes princípios básicos, que pretendo explicar em textos futuros (carga cognitiva, dificuldades desejáveis e socioemocional)


ESTRATÉGIA 1 - Pré-teste


Reflita comigo. Qual é a primeira coisa que você faz na sua aula? Depois da chamada, é claro. Você compartilha os objetivos da lição, corrige a tarefa, manda todo mundo abrir o livro na página 17 e começar o exercício 2b? Agora imagine começar sua aula com algo a mais (o plus a mais, como diz um amigo). A Ciência da Aprendizagem sugere que a aplicação de um pré-teste no início da aula está diretamente ligada ao desempenho dos alunos. O que isso quer dizer? Um rápido teste ou quiz sobre o conteúdo a ser ensinado não apenas aumenta a consciência dos alunos, mas também aguça sua curiosidade. Também ajuda a resgatar o conhecimento prévio dos alunos e serve como ótima estratégia de priming, ou seja, processo pelo qual a exposição prévia a determinados estímulos influencia a resposta dos alunos a novos estímulos ou informações.


Tá difícil? Muita informação? Pensem assim. O começo da aula deveria ser tipo uma combinação de mise en place em um restaurante e um game show, tal como Show do Milhão ou Quem quer ser um Milionário?


Tudo organizado em seu devido lugar para todo mundo com uma pitada de animação pelo que vem pela frente para criar o clima adequado

É importante colocar seus alunos na mesma página e garantir que eles queiram prestar atenção no que vem pela frente. Por que será que os serviços de streaming começam com um resumo do episódio anterior e a cada cena vão nos revelando várias dúvidas que tínhamos da semana passada? Já pensou nisso?


Acho que não preciso nem dizer, mas você pode simplesmente fazer perguntas aleatórias, montar um slide com múltipla escolha, usar o Kahoot ou flashcards para criar seu quiz. É importante deixar os alunos trabalharem individualmente nesse estágio porque isso é um processo ativo e não dá para garantir que todo mundo terá se esforçado para conseguir as respostas em pares ou grupos. Alguém pode simplesmente dar uma resposta para o coleguinha e interromper todo o processo de pensamento dele.


ESTRATÉGIA 2 - Prática de Lembrar


Agora pense no seguinte. A sua aula é mais no estilo Sócrates ou professor de economia do filme Curtido a Vida Adoidado?


Não sei se você lembra, mas esse professor de economia ficou famoso porque ele explicava, explicava, explicava, com um desânimo inconfundível, e depois fazia uma pergunta, esperava dois segundos, e respondia a própria pergunta. Talvez você seja do tipo que nem pergunta faz. Só que isso é um problema e acho que posso provar. Essa aqui aprendi com o super cientista da aprendizagem e meu parceiro em um projeto sobre o tópico no Brasil, o Jared Cooney Horvath. Em uma das aulas do curso que ele criou, The Learning Blueprint, ele pergunta mais ou menos o seguinte:


Vocês já viram uma moeda de 50 centavos milhares de vezes, certo? Então por que vocês não conseguem desenhar uma de memória? Agora pensem em um jingle qualquer ou musiquinha irritante de algum comercial. Você lembra da letra?

É muito mais provável que você se lembre da letra do jingle do que dos detalhes da moeda de 50 centavos. E a razão é simples. Ser exposto a uma coisa (ou conteúdo) milhares ou milhões de vezes não garante aprendizado. O que garante é a aplicação.


Em outras palavras: você não se lembra do jingle porque ouviu várias vezes. Você se lembra porque cantou várias vezes.

Isso tem nome: prática de lembrar ou retrieval practice do inglês. A prática repetida de lembrar informações é fundamental para a consolidação da memória de conceitos e, portanto, do aprendizado a longo prazo. Não adianta só expor o conteúdo, tem que deixar os alunos aplicarem isso de alguma forma. A aula não pode ser completamente passiva. Ela precisa ser ativa. Então, após apresentar novos conteúdos, reserve alguns minutos para permitir que os alunos pratiquem ativamente.


Lá pelo meio da aula, ou logo após um conteúdo novo, dá para fazer uma pergunta aberta do tipo: o que a gente viu até agora? Ou pode ser algo mais direcionado? escrevam 2 conceitos que eu expliquei hoje e suas definições ou simplesmente qual é o significado disso aqui?


Mas lembrem-se. Cada um tem que ter tempo para tentar recuperar a resposta de maneira individual. Por isso não tenha medo do silêncio (precisamos dele para pensar). Depois de 1 minutinho, aí dá para pedir que os alunos compartilhem em pares ou grupos. Lembram do think-pair-share? Esse é o espírito.


ESTRATÉGIA 3 - Exemplos Concretos


Você chega na sala para falar sobre equação exponencial, 3rd conditional, Ciclo de Krebs, ou a Revolução Francesa. Lá pelas tantas, você percebe que os seus alunos estão perdidaços. Por que será? Aliás, por que você acha que eu resolvi dar esses quatro exemplos aqui, um de matemática, um de inglês, um de biologia e um de História? E por que será que eu falei do mise en place, do Show do Milhão, do professor do Curtindo a Vida Adoidado, da moeda de 50 centavos e dos jingles?


Fonte: Extra Online

PS: por acaso lembrei dos Pôneis Malditos agora


A equação é simples. Quando se trata de compreender conceitos abstratos, nada supera o poder dos exemplos concretos. Nosso cérebro processa e memoriza informações complexas com mais facilidade quando são apresentadas de maneira tangível. Professores criativos têm usado objetos do dia a dia para ilustrar ideias complexas. Por exemplo, um professor de geografia que levou um abacate para explicar as camadas e o núcleo da Terra. Ou um professor de química que usou uma caixa de sapato fechada com fita e uma caixinha de giz de cera para ilustrar como os cientistas testam o que não podem ver ou abrir - ambos meus professores, diga-se de passagem. Esses exemplos concretos não apenas tornam o aprendizado mais vívido, mas também ajudam os alunos a internalizar informações difíceis de maneira mais eficaz.


Em outras palavras: ao invés de gastar um tempão tentando montar slides maravilhosos ou materiais impressos de todo o tipo, leve um tijolo para a sala de aula ou qualquer coisa tangível que se relacione com o que os seus alunos já conhecem. Vale exemplo de série, filme e livro.

CONCLUSÃO


Uma aula que começa com tudo organizado para todo mundo, com perguntas sobre os assuntos que serão trabalhados, com perguntas no meio do caminho depois da exposição dos conteúdos, com tempo para pensar individualmente sem olhar para o material e com exemplos concretos e objetos reais é uma aula que funciona bem.


Parece óbvio e até é. É assim que o nosso cérebro aprende e se a gente entender melhor os princípios por trás de tudo isso, a gente pode transformar a experiência de quem a gente ensina.


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